A Medicina Antroposófica

Uma Medicina Integrativa

Uma Medicina Integrativa

A Medicina Antroposófica consiste em um sistema médico terapêutico integrativo e complementar que amplia a medicina acadêmica com os conhecimentos da Antroposofia. Ela é praticada atualmente em mais de 60 países tanto no âmbito de ambulatórios, consultórios e clínicas quanto em hospitais de pequeno, médio e grande porte. Está presente oficialmente no sistema de saúde de alguns países e é contemplada em cadeiras acadêmicas e em pesquisas de algumas universidades.

Ela foi desenvolvida na Europa, no início do século XX, a partir do trabalho conjunto de um grupo de médicos, liderados pela Dra. Ita Wegman e por Rudolf Steiner, filósofo contemporâneo, sistematizador da Antroposofia.

Uma de suas principais características é a abordagem centrada no paciente a partir de uma concepção de saúde que valoriza sua individualidade e considera que as dimensões emocional, mental e espiritual são tão relevantes quanto a dimensão corpórea nos processos de adoecimento. Ênfase especial é colocada na busca pelo envolvimento do paciente direta e ativamente em seu processo de prevenção, tratamento e recuperação do bem estar por meio de atividades de educação e auto-educação para o cuidado.

No Brasil e no mundo, os médicos que incluem a Medicina Antroposófica em sua prática clínica podem ser generalistas ou especialistas. Eles complementam seu conhecimento com a imagem antroposófica do ser humano e do mundo por meio de uma formação que pode durar entre 2 a 5 anos dependendo do país e do curso. Tratam-se de profissionais graduados em Medicina e regularmente inscritos nos conselhos médicos. No caso do Brasil, os médicos associados à ABMA estão vinculados aos Conselhos Regionais de Medicina. A formação coordenada pela ABMA, por meio de suas confederadas tem a duração de 2 anos compreendendo o mínimo de 282 horas teóricas e 100 horas práticas.

A abordagem terapêutica pode incluir medidas não medicamentosas gerais ou específicas e indicação de tratamentos complementares pelas terapias antroposóficas, como também a combinação de medicamentos antroposóficos, homeopáticos, fitoterápicos ou convencionais. A salutogênse é um componente muito relevante da Medicina Antroposófica.

Os medicamentos antroposóficos podem ser utilizados sob a forma de medicação oral, injeções subcutâneas ou intravenosas. Alguns tratamentos externos consistem em envoltórios, compressas e banhos com o uso de calor, movimentos e ou óleos essenciais de algumas plantas.

Atuando de forma interdisciplinar com outras áreas da saúde e terapias ampliadas pela Antroposofia, a abordagem do paciente pode ser realizada em conjunto com profissionais que atuam por meio da Odontologia Ampliada pela Antroposofia, Psicologia Antroposófica, Euritmia terapêutica, Massagem Rítmica, Terapia Artística Antroposófica, Aconselhamento Biográfico, entre outras.

Antroposofia na Saúde

Antroposofia na Saúde

Segundo a Antroposofia, cada elemento, substância e ser vivo sobre a face da Terra fazem parte de um conjunto harmônico que respira como um verdadeiro cosmo vivo. Esse cosmo possui um aspecto sensível, visível e mensurável com o qual nos relacionamos através de nossos sentidos e que compreendemos racionalmente através da nossa ciência acadêmica, mas também possui um conjunto de forças não visíveis, o seu aspecto imaterial ou supra-sensível. Para a Ciência Espiritual de Rudolf Steiner, esse campo supra-sensível é tão real e passível de ser estudado, quanto o mundo material. O ser humano ocupa uma posição muito peculiar dentro dessa cosmovisão. Ele é considerado uma imagem condensada desse mundo ao seu redor. Um microcosmo em permanente interação com o macrocosmo material e espiritual.

Os três princípios constituintes do homem ou Trimembração

Quando contemplamos o corpo humano, podemos perceber três partes bem distintas: cabeça, tronco e membros. Por trás dessa aparente simplicidade esconde-se, no entanto, um dos grandes segredos da arte antroposófica de curar. Para um médico antroposófico, o ser humano é um organismo trimembrado. Aprofundando-se nessa direção, ao observarmos a cabeça, vemos que nela predominam os processos neurossensoriais. Se observarmos o cérebro, vemos uma estrutura de baixíssima vitalidade e alta especialização. Através da cabeça, a maioria dos estímulos sensoriais penetra no cérebro por meio dos pares cranianos. Uma outra característica da cabeça é que seus ossos têm formas planas e arredondadas e situam-se na periferia, de maneira a proteger o cérebro. No pólo oposto encontram-se o abdômen e os membros, com predomínio de intensa atividade metabólica, onde os processos de regeneração celular são muito ativos e há um “ir para o mundo” tanto através das mãos e dos pés, quanto através dos resíduos que eliminamos. Os ossos, nesse pólo, são longos e retilíneos e encontram-se protegidos por musculatura, dando-lhes sustentação. Entre essas duas regiões de características tão distintas, encontra-se o tórax, que, na Medicina Antroposófica, abriga o equilíbrio entre as polaridades descritas, sendo a sede do sistema rítmico, que promove a inter-relação saudável entre o pólo neurossensorial e o pólo metabólico. Aí encontram-se órgãos rítmicos: coração e pulmões, protegidos por um arcabouço, as costelas, que também se movimenta. E assim, resumidamente, temos um homem trimembrado em seus sistemas neurossensorial, rítmico e metabólico. Cada um deles permeia todo o organismo humano, mas concentram-se principalmente em uma região do corpo.

No caso do sistema neurossensorial, ele está mais concentrado na região da cabeça, mas sabemos que todo o corpo humano possui nervos.

O sistema rítmico concentra-se principalmente na região do coração e pulmões, isto é, no tórax, mas todo o corpo humano possui artérias que pulsam ritmicamente e a respiração também acontece em cada célula de nosso corpo.

O sistema metabólico concentra seus órgãos principalmente no abdome e o movimento ativo nos membros, mas cada parte do nosso corpo possui seu metabolismo e movimento próprios.

Na vida psíquica, essa trimembração pode ser identificada nas três atuações básicas: pensar, sentir e agir.

Os quatro elementos constituintes do ser humano ou Quadrimembração

“O homem é o que ele é através do corpo físico, do corpo etérico ou vital, do corpo astral (alma) e do Eu (espírito). Ele deve ser visto como homem sadio a partir desses membros; ele deve ser percebido, quando doente, no equilíbrio perturbado deles; para sua saúde devem ser encontrados medicamentos que restabeleçam o equilíbrio perturbado”.

Elementos fundamentais para uma ampliação da arte de curar
Rudolf Steiner e Ita Wegman

Uma das maneiras de apresentar o homem à luz da Antroposofia, é relacioná-lo com a natureza ao seu redor. Nessa abordagem, o homem é visto como um ser que compartilha semelhanças com os reinos mineral, vegetal e animal, mas que também se distingue deles pela presença da sua autoconsciência. Podemos dizer que o homem guarda em si todos esses reinos, sendo portador de quatro estruturas essenciais, de quatro elementos constituintes, também chamados de “corpos” no jargão médico-antroposófico.

Corpo físico: é a estrutura sólida, material, palpável e mensurável, sujeita às leis da física e da química. É o corpo que compartilhamos com os minerais. É uma estrutura totalmente inerte e morta quando não permeada pelo segundo elemento (corpo etérico).

Corpo Etérico ou Vital: são as forças responsáveis por todo o princípio da vida, seja nos vegetais, animais ou seres humanos. O corpo vital nos dá a possibilidade de desenvolvermos vida vegetativa: crescimento, regeneração e reprodução.

Corpo Astral (corpo anímico ou alma): são as forças da consciência, presentes nos reinos animal e humano, e que formam o fundamento para uma vida sensitiva. Tem um papel de “organizador” dos processos vitais e, de maneira didática, podemos dizer que ele manifesta-se como sistema nervoso e vida psíquica.

Organização do Eu (espírito): é o elemento característico do ser humano, que o distingue dos demais reinos e seres da natureza. É o responsável pela atuação saudável dos demais corpos e o aparecimento do andar ereto, da fala e do pensar. É a nossa individualidade, nossa entidade espiritual. Relaciona-se com os processos de calor no âmbito do organismo.

Uma analogia pode ser feita com os quatro elementos da medicina hipocrática e também da alquimia: terra (corpo físico), água (corpo etérico), ar (corpo astral) e fogo (Eu).

As etapas do desenvolvimento humano ou biografia humana

Uma das grandes contribuições da Antroposofia para a Medicina e a Psicologia é o aprofundamento do estudo das leis biográficas. Se observarmos o ser humano em seu processo de desenvolvimento, veremos que este se dá em ciclos de sete anos, marcados por acontecimentos significativos no campo biológico ou psicológico. Do nascimento aos sete anos de idade, vemos profundas transformações relacionadas com o crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor. O bebê transforma-se em uma criança com pensar lógico, com sentimentos, vontade própria e muita agilidade. A troca dos dentes e o início da alfabetização, em torno dos sete anos, marcam essa mudança de ciclo. Aos quatorze anos, a maioria dos jovens atingiu a puberdade, marcando um amadurecimento biológico, e aos 21 anos geralmente buscam a sua independência da família, já tendo alcançado a maioridade jurídica. E assim, a alma humana vai se transformando junto com o seu corpo físico-biológico, à medida que o Eu, a individualidade, vai se aprofundando em seu caminho pela Terra. De maneira mais resumida, vemos três grandes marcos biográficos: do nascimento aos 21 anos; dos 21 aos 42 anos; dos 42 aos 63 anos/final da vida. Cada um desses ciclos pode ser dividido em três setênios com características muito definidas. Mas, num olhar abrangente sobre o ciclo de vida humana, vemos um início de vida com muita vitalidade física e pouca consciência; depois um período com maior desenvolvimento emocional e o “apropriar-se do mundo”, seguido geralmente por uma fase de maturidade, sabedoria e desenvolvimento de consciência social, mas com baixa vitalidade. No fim da vida há um “desprender-se do mundo”. Segundo a Antroposofia, o Eu humano tem uma trajetória encarnatória, descendendo dos mundos espirituais de onde se origina, do nascimento à metade da vida (por volta dos 42 anos), quando esse processo chega ao fim. Logo após começa a sua trajetória de volta aos mundos espirituais, caracterizando uma trajetória excarnatória, um processo ascendente. Entre esses acontecimentos, o Eu humano desenvolve uma história individual, única: a sua biografia. Compreender o processo de saúde e de doença significa também compreender o momento biográfico, suas crises e seus frutos.

Medicamentos Antroposóficos

Medicamentos Antroposóficos

Os medicamentos antroposóficos são regulamentados pela ANVISA por meio da RDC nº 26 de 30 de março de 2007 

A Famácia Antroposófica é reconhecida pela CFF por meio da Resolução CFF 465/2007

Leia sobre a Farmácia Antroposófica

Conheça a Farmantropo: farmantropo.com.br

……………………………………………………………………………………

Leia abaixo artigo do Dr. Nilo Gardin sobre os medicamentos

Quando alguém começa um tratamento com a medicina antroposófica, uma das primeiras perguntas que surge é: o que é um medicamento antroposófico? Quais as diferenças em relação aos outros medicamentos?

A farmácia antroposófica começou a ser desenvolvida há cerca de 100 anos, por Rudolf Steiner, fundador da antroposofia, e Oskar Schmiedel, químico austríaco, em colaboração com médicos – especialmente Ita Wegman, fundadora da medicina antroposófica.

Os primeiros produtos medicinais antroposóficos datam de 1921, quando o primeiro laboratório farmacêutico antroposófico foi criado na Suíça, a Weleda (veja abaixo todos os laboratórios farmacêuticos antroposóficos).

Todos os medicamentos antroposóficos são obtidos da natureza, a partir de substâncias minerais, vegetais ou animais. Não há medicamento antroposófico sintético, embora o médico antroposófico recorra aos chamados medicamentos alopáticos quando necessário. Tampouco se concebe um medicamento antroposófico obtido de uma planta geneticamente modificada, ou que em seu processo de cultivo foram usados agrotóxicos, fertilizantes químicos ou herbicidas sintéticos.

A razão é simples: os processos normais ou doentios que ocorrem no organismo humano encontram na natureza algum processo correlato ou oposto. De acordo com cada caso, a medicina antroposófica indicará um medicamento para estimular no ser humano uma reação que levará à cura ou alívio da enfermidade. O fundamental no medicamento antroposófico é que ele estimula as forças auto-curativas do organismo.

Um medicamento antroposófico pode agir, de acordo com sua composição, de três modos: (1) estimulando um processo contrário à doença – esta é a maneira alopática de ação, por exemplo, para uma inflamação pode-se usar uma planta que estimule no organismo suas atividades antiinflamatórias; (2) agindo de modo igual à doença e provocando uma reação contrária maior do organismo no sentido da cura – este é um princípio homeopático de ação: aquilo que provoca também pode curar; (3) proporcionando um modelo orientador para o órgão ou sistema doente, levando à sua atividade sadia – este princípio é exclusivo dos medicamentos antroposóficos.

Muitos medicamentos antroposóficos são dinamizados, isto é, diluídos e agitados de modo rítmico várias vezes. Esse processo farmacêutico serve para despertar na substância seu potencial curativo, que estava como que adormecido. Mas também existem remédios feitos a partir de tinturas de plantas, extratos secos e chás, ou seja, medicamentos não dinamizados.

Há uma grande preocupação com a qualidade da substância que será usada para se fazer o medicamento antroposófico, pois se entende que a substância é a fase final de um processo. Então, o processo precisa ser tão valorizado quanto a substância em si. Alguns exemplos práticos: a calêndula é uma planta conhecida como cicatrizante e vitalizante desde a Idade Média. Além do cultivo orgânico (sem agrotóxicos ou fertilizantes químicos), para que as flores da calêndula sejam usadas em um medicamento ou cosmético antroposófico, elas são colhidas nas primeiras horas da manhã, quando na natureza as forças de vitalização são mais intensas. As tenras folhas da bétula, usadas como rejuvenescedoras desde o século I, são colhidas na Primavera, justamente a época em que a natureza se rejuvenesce.

Entre um mineral natural e um derivado de uma reação química sintética – ainda que ambos tenham a mesma composição – o mineral natural será o escolhido para compor um medicamento antroposófico justamente porque ele trará consigo todo o seu processo natural que culminou na substância.

Isso significa que existe um cuidado especial com tudo o que cerca o futuro medicamento, inclusive influências “de longe”. A prata, mineral de grande aplicação terapêutica na medicina antroposófica, é dinamizada de acordo com a fase da lua, pois existe uma clara influência deste astro com o metal – já demonstrada em diversos experimentos científicos.

As principais vias de administração dos medicamentos antroposóficos são a oral, a injetável subcutânea e a tópica (compressas externas de pomadas, cremes ou óleos). De acordo com o que se pretende estimular, o médico optará por uma ou outra via.

Oficialmente a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), reconhece os medicamentos antroposóficos como uma categoria de medicamentos dinamizados. Portanto existe uma identidade própria de tais remédios no Brasil.*

A farmácia antroposófica é reconhecida pelo Conselho Federal de Farmácia, que também atribui ao farmacêutico antroposófico suas principais tarefas.**

Agora você já conhece os princípios que regem os medicamentos antroposóficos. Quando receber a prescrição de seu médico antroposófico, você saberá que dentro daquele frasco, nas gotas, glóbulos, ampolas ou pomadas, existe uma parte da natureza pronta para lhe ajudar a recuperar ou manter sua saúde, de forma harmônica, suave e profunda. Parabéns pela opção!

Laboratórios farmacêuticos antroposóficos

Quando a medicina antroposófica começou a se estruturar, houve a necessidade de que um laboratório farmacêutico atendesse às suas designações. Dessa forma, em 1921, Steiner e Wegman criaram a Weleda e os primeiros produtos medicinais antroposóficos começaram a ser produzidos. Sua sede estabeleceu-se em Arlesheim, Suíça.

Em 1935, o químico Rudolf Hauschka, tendo também como base os fundamentos da Antroposofia de Steiner, criou o laboratório Wala que produz medicamentos para uso injetável subcutâneo, glóbulos sublinguais e produtos de uso tópico.

Em 1971, a Abnoba foi fundada na Alemanha para produzir e comercializar especificamente preparações de Viscum album. Suas pesquisas farmacêuticas são orientadas pelo método de conhecimento científico de Goethe.

Na tentativa de melhorar a eficácia dos preparados de Viscum album, membros da Verein für Leukämie and Krebstherapie (Sociedade para o Tratamento da Leucemia e Câncer) desenvolveram em 1972 o medicamento Helixor, liderados pelos médicos Dietrich Bóie e Maria Günczler em Stuttgart, Alemanha. Como a demanda foi crescente, em 1975 foi fundado o laboratório Helixor, que atualmente também produz Helleborus niger.

Na cidade austríaca de Pörtschach, desde 1980, o laboratório Novipharm dedica-se à produção de Viscum (Isorel) a partir do trabalho de Herta, Rudolf, and Elisabeth Weiss.

No Brasil, o casal de farmacêuticos Marilda e Flávio Milanese desenvolveu a farmácia magistral Sirimim a partir de 1998, produzindo novos medicamentos antroposóficos através do éter químico. Seus medicamentos não usam álcool, mas sim glicerina a 70% para tornar sua assimilação mais fácil, além de glóbulos e cremes.

Dr. Nilo Gardin

O Dr. Nilo Gardin é Editor Chefe da Revista Arte Médica Ampliada

*Os medicamentos antroposóficos são regulamentados pela ANVISA por meio da RDC nº 26 de 30 de março de 2007 

** A Famácia Antroposófica é reconhecida pela CFF por meio da Resolução CFF 465/2007

Conheça a Farmantropo:

www.farmantropo.com.br


DRA. GUDRUN BURKHARD

Pioneiros no Brasil

DRA. GUDRUN BURKHARD

A pioneira do nosso movimento médico antroposófico é a Dra. Gudrun Kröekel  Burkhard, formada pela Universidade de São Paulo e que começou a clinicar em 1956.

Ela é autora de vários livros, dentre eles, “Novos Rumos da Alimentação”, “Tomar a vida nas próprias mãos” e “Bases Antroposóficas da Metodologia Biográfica”.

Em 1969, com o apoio da Associação Beneficente Tobias, a Dra. Gudrun inaugura a primeira clínica de Medicina Antroposófica no Brasil, a Clínica Tobias, situada no bairro Alto da Boa Vista, na capital de São Paulo, com oito leitos para internação. A Clínica Tobias passa a congregar um significativo número de médicos antroposóficos, além de profissionais das terapias antroposóficas (terapia artística, massagem rítmica, euritmia e outras) e torna-se responsável pela formação de aproximadamente 80 médicos de várias regiões do Brasil, especialmente Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e também alguns médicos do exterior. Em 1993, a Clínica Tobias modifica sua dinâmica de trabalho, passando a atuar apenas no atendimento ambulatorial

Ita Wegman

Ita Wegman

Ita Wegman (1876-1943) nasceu na ilha de Java, que na época pertencia à Holanda. Fez seus estudos de medicina na Suíça, diplomando-se em 1911. Em 1917, conclui sua especialização em ginecologia. Foi a personalidade que ajudou a incorporar os trabalhos de Rudolf Steiner na medicina, no sentido de ampliar o método científico.

No ano 1917, começa a usar um medicamento elaborado a partir de uma planta, o Viscum album, no tratamento de pacientes com neoplasias malignas, justamente a partir dos conceitos ampliados pela Medicina Antroposófica. Em 1921 funda a primeira clínica onde se pratica essa medicina ampliada, na cidade de Arlesheim, perto de Basiléia, na Suíça.

A partir de 1923 escreve, em conjunto com Rudolf Steiner, um livro fundamental para a Medicina Antroposófica, cuja primeira edição foi publicada após da morte dele. Em 1925 funda uma Escola de Enfermagem e em 1926 cria a primeira revista de Medicina Antroposófica, a Revista Natura. Em 1931 abre o Centro de Estudos Médicos em Berlim e funda o Instituto de Pedagogia Curativa em Hamborn, também na Alemanha. Em 1932 abre um Centro de Estudos Médicos em Londres. Em 1936-1937 funda a “Casa de Cura Andréa Cristóforo” em Ascona, Suíça – uma instituição dedicada a pessoas convalescentes ou que procuravam por um local para se restabelecer -, e o Instituto La Motta, em Brissago, Suíça, para crianças excepcionais. Em 1936 Ita Wegman abre uma Escola de Pedagogia Curativa em Paris.

Ela visitou quase todos os países da Europa, levando sempre o estímulo para o desenvolvimento de iniciativas que fossem portadoras dos impulsos terapêuticos vinculados à Medicina Antroposófica. Essa intensa atividade só foi interrompida com o início da Segunda Guerra Mundial, quando o nazismo proibiu qualquer atividade ligada à Antroposofia, tanto na Alemanha quanto nos países ocupados pelos nazistas. Ita Wegman foi uma pessoa com enorme capacidade de ação e com uma grande universalidade de espírito. Médicos jovens e estudantes de medicina encontravam nela um modelo a ser imitado no relacionamento médico-paciente. Foi ela quem recebeu de seus colegas a pergunta em direção a uma humanização da medicina, e com essa pergunta dirigiu-se a Rudolf Steiner, iniciando-se assim um trabalho conjunto, cujo fruto é o que conhecemos hoje como Medicina Antroposófica

Rudolf Steiner

Rudolf Steiner

Rudolf Steiner foi um filósofo e cientista nascido dentro das fronteiras do antigo Império Austro-Húngaro (atual Croácia), em 1861. No âmbito da multiplicidade das áreas com que a filosofia se ocupa, ele dedicou-se centralmente à “Teoria do Conhecimento”, área que em sua época ocupava intensamente os filósofos europeus e também os cientistas, em função do valor que tinham, em termos de conhecimentos objetivos, os desenvolvimentos que estavam acontecendo, particularmente na física. Para Rudolf Steiner e outros pensadores da sua época, era um conflito ver como a “Teoria do Conhecimento” identificava-se com uma imagem científica do mundo, quando esta, por sua vez, identificava-se com a imagem que a física fazia do mundo. Mas acaso essa imagem é válida para a biologia? Essa pergunta levou Steiner a procurar diretamente as personalidades que se sobressaíam no campo da pesquisa em biologia, tentando achar aí os elementos que o levassem a reconhecer, ou não, uma especialização na Teoria do Conhecimento, quando esta era aplicada aos fenômenos dos organismos vivos.

Convidado a trabalhar no Arquivo Goethe-Schiller, em Weimar, Rudolf Steiner aí permaneceu durante 7 anos (de 1890 a 1897), podendo então reconhecer essa diferenciação na metodologia proposta pela Teoria do Conhecimento, na forma como o poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe fazia suas pesquisas no campo da botânica e da zoologia. Sua primeira tarefa foi publicar a Obra Científica de Goethe. Foi ordenando e publicando essa obra que Rudolf Steiner desenvolveu os primeiros conceitos de uma metodologia específica na Teoria do Conhecimento para se entender os organismos vivos. A partir desses trabalhos metodológicos iniciais, durante o século XX, diversas personalidades do mundo científico tentaram aplicar essa metodologia na prática da pesquisa científica, o que levou a um desenvolvimento extraordinário em determinadas áreas da biologia, e, como conseqüência, à aplicação desses métodos, dentro do possível, também na medicina.

Rudolf Steiner dedicou-se a uma intensa atividade também como conferencista e escritor, no intuito de expor e divulgar os resultados de suas pesquisas científico-espirituais em diversos países da Europa. Fundou, juntamente com seus seguidores, a Sociedade Antroposófica, construindo sua sede – chamada” Goetheanum” em homenagem a Goethe – na pequena cidade de Dornach, Suiça, onde faleceu em 1925. Deixou extraordinárias contribuições em campos científicos diversos (Medicina, terapias, farmácia, botânica etc), nas artes , na Pedagogia, Agricultura e organização social. 

Viscum album

Viscum album

Em 2017 a medicina antroposófica celebra cem anos de uso do Viscum album, considerando a primeira preparação feita pela Dra. Ita Wegman a partir das recomendações de Rudolf Steiner. Estão disponíveis na literatura muitas evidências de sua eficácia como imunomodulador e também de seu papel na melhora da qualidade de vida dos pacientes, tornando-o o medicamento mais utilizado e pesquisado em oncologia integrativa no presente.

Os extratos de viscum possuem uma grande quantidade de princípios ativos, destacando-se as lectinas e viscotoxinas. Elas são as principais responsáveis pelos efeitos imunomodulador e antitumoral desse medicamento. Em geral, a terapia antroposófica com Viscum album é realizada de forma concomitante com a terapia convencional do câncer: quimioterapia, radioterapia, terapia hormonal, cirurgia ou outros tratamentos pertinentes. Em algumas situações poderá ser utilizado visando provocar a apoptose das células tumorais. Frequentemente é utilizado também como terapia paliativa, com o propósito de auxiliar na qualidade de vida em estágios próximos ao final da vida.

A terapia oncológica integrativa de orientação antroposófica contempla, além do viscum, a euritmia terapêutica,  a terapia artística antroposófica, a massagem rítmica, os enfaixamentos, alimentação saudável e a prática de esportes.

A principal característica em oncologia integrativa na perspectiva da medicina antroposófica é a abordagem individual do caso. Confira esse e outros aspectos relevantes no artigo “Individualized Integrative Cancer Care in Anthroposophic Medicine: A Qualitative Study of the Concepts and Procedures of Expert Doctors”, de autoria de Gunver Kienle e colaboradores, disponível nessa seção.

Resumo Viscum album português

Individualized Integrative Cancer Care in Anthroposophic Medicine: A Qualitative Study of the Concepts and Procedures of Expert Doctors

Viscum album: preparações farmacêuticas para aplicação na terapêutica antroposófica

Helixor (Viscum album L.) na prática clínica: como iniciar o tratamento e encontrar a dose adequada para cada paciente